Archivo:Ilha do Bugio, Madeira, José Lemos Silva - 2015 - Image 213723.jpg

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Resumen

Descripción
Português:

Ilha do Bugio.

Foto de José Lemos Silva, 2015 (c.).

Ilhas Desertas, Região Autónoma da Madeira

Bugio (Ilha do), Bugia (Fonte da) e Bugiaria (Sítio da): origem dos nomes.
José Lemos Silva/2010/2022.
Gaspar Furtuoso (1522-1591), nas «Saudades da Terra», ao descrever «o descobrimento das ilhas chamadas desertas, e cujas são e do que nelas há, e de algumas coisas de outras duas ilhas chamadas salvages» e sobre a Ilha Deserta, narra-nos o seguinte:
(…) «Apegado com esta o terço de meia légua jaz outra ilha, mais pequena e estreita para a banda do mar, de uma légua, ou pouco mais, de comprido, que também tem gado miúdo e fina urzela, de que se tira proveito: chama-se Cu de Bugio, pela aparência que disso tem quem bem olhar da ilha Deserta, que mais parece calos deste animal que ilha, nome posto pelos antigos, sem mais outra razão alguma; onde se criam muitas cabras bravas nas rochas, que, a tempos, vão tomar com cães.
«Antre a Deserta e a ilha da Madeira jaz um ilhéu grande, de comprimento de meia légua, que se chama o ilhéu Chão, pelo ele ser em si, além de o parecer, e distará da ilha da Madeira quatro léguas, e meia da Deserta, alto de rochas, mas em cima terá como três moios de terra chã. Pode-se semear nele um moio de terra muito boa, e muitas vezes foi lavrada e semeada, mas por estar sujeito aos ventos e desabrigado este ilhéu de árvores (onde fazem as tempestades muito dano), não se colhe dele proveito, nem se semeia. Tem, todavia, alguns coelhos e cagarras. Chamam-se estas ilhas Desertas, tomando as duas o nome da primeira a que o Capitão João Gonçalves Zargo pôs nome Deserta. Como do nome da ilha Terceira, chamam alguns ilhas Terceiras a todas as outras dos Açores.
«Estão todas três Norte e Sul com a ponta de São Lourenço e, arredando-se desta ponta um tiro de besta, onde está uma baixa que haverá cinco léguas de canal antre a ponta e o ilhéu Chão, pode toda maneira de navios e naus passar seguramente pelo canal que está antre elas.
«Da baía da cidade do Funchal, da ilha da Madeira, ao Cu de Bugio, que está com ela Noroeste-Sueste, haverá treze léguas, e a Deserta com Cu de Bugio está Norte e Sul e Noroeste Sueste com a ilha da Madeira, e são seis léguas antre ela e a mesma ilha da Madeira; e desta Deserta ao ilhéu Chão está um canal estreito, por onde não passam senão barcos pequenos, o qual ilhéu está também na mesma rota de Noroeste Sueste com a ilha da Madeira.
«Estas ilhas todas são morgado dos Capitães da jurdição do Funchal, por onde se pode coligir dever-se a eles a glória deste descobrimento, pois, com estas ilhas jazerem defronte de Machico e mui perto dele, em comparação do Funchal, todavia, nunca os Capitães de Machico tiveram jurdição, posse, ou propriedade nelas, que todas são dos Capitães do Funchal, pela qual razão seus descendentes se intitulam Senhores delas, como já tenho dito.» (…)
Segundo Dicionário da Língua Portuguesa, 6.ª Edição, da Porto Editora (Costa e Melo, 1990), o termo «bugio» provem do árabe vulgar, «buyíya, nome da cidade africana de Bugia (1), Bougie ou Béjaïa», localizada no litoral da Argélia, «donde os macacos eram originários» e desta forma apelidados pelo topónimo argelino. «Bugia» é a fêmea do macaco africano denominado de «bugio». Neste âmbito, o termo «bugio» é «sinónimo de macaco». Por outro lado, segundo os mesmos autores, «bugia», analogamente, poderá significar uma pequena «vela de cera» em virtude de este produto ser originário da mesma cidade argelina (Costa e Melo, 1990). A cera importada desta mesma cidade fazia parte das rotas comerciais mediterrânicas e daí os franceses designar as velas de «bougie», igualmente, com origem no mesmo topónimo. Poderemos ainda mais acrescentar, salvo melhor opinião, que as palavras «bugio» e «bugia» fizeram parte da cultura mediterrânica e portuguesa. A prova disso é que o termo «bugiada» poderá designar uma «porção de bugios» ou uma «macacaria». Uma «bugiaria», poderá denominar: «gestos de bugio; macaquice; bugiganga; ninharia» (Costa e Melo, 1990). Assim sendo, o topónimo argelino, fez parte da linguagem dos portugueses para classificar tudo o que fosse parecido com o «bugio» ou macaco africano, tanto na sua aparência como na sua conduta.
Assim, o termo «bugio» e os seus derivados, caíram em desuso através dos séculos, mas foi guardado na toponímia continental e insular, e, no mundo que fala o português. Neste contexto, poderemos dar exemplos como topónimo continental: a Bugia, no concelho de Fornos de Algodres, Guarda, e como topónimos insulares: a Fonte da Bugia, Arco da Calheta, Calheta; o sítio da Bugiaria (São Roque, Funchal); e a Ilha do Bugio (Ilhas Desertas). Ainda poderemos encontrar o uso do termo atrás citado nas tradições populares portuguesas, como por exemplo, a «Festa da Bugiada e Mouriscada» (2). Esta festa de invocação a São João, realiza-se anualmente, no Sobrado – Valongo no dia 24 de Junho, «palco principal das encenações das lutas entre Bugios (Cristãos) e Mourisqueiros (Mouros), pela posse de uma imagem milagrosa de São João Baptista». Por outro lado, até o «corpulento macaco americano, com o queixo barbado» foi apelidado de «bugio» no Brasil, onde também é conhecido por barbado, guariba, etc., para além do citado termo ser usado como topónimo neste país. Portanto, não poderemos estranhar que chegando os primeiros navegadores portugueses às ilhas do arquipélago madeirense, e ao olharem para as Ilhas Desertas (3), a última destas para os lados do sul, cognominaram de «Cu de Bugio, pela aparência que disso tem quem bem olhar da Ilha Deserta, que mais parece calos deste animal que ilha, nome posto pelos antigos», como nos narra Gaspar Furtuoso.
Notas:
(1) «Bugia»:
<a href="https://www.google.com/maps/place/Bugia,+Arg%C3%A9lia/@36.7700719,5.006979,17859m/data=!3m2!1e3!4b1!4m5!3m4!1s0x12f2cca1a82082c5:0x7807b41e13330b6e!8m2!3d36.7515258!4d5.0556837?hl=pt-PT&fbclid=IwAR102rb1mpzYAVfKj4EuW6fedYeni-I2T_QAAMbZ3GuuImsn66ZzwfnXO5Y">https://www.google.com/…/data=!3m2!1e3!4b1!4m5!3m4… </a>
(2) «Bugiada e Mouriscada»:
<a href="https://www.cm-valongo.pt/pages/567?event_id=2241&fbclid=IwAR0e2dpBiwFUoFqaClTHwmnnD6nzO3YRIadosJnMFRHzeXaEUab7BXyOIoc">https://www.cm-valongo.pt/pages/567?event_id=2241…</a>
<a href="https://www.facebook.com/cdbugiadamouriscada/videos/1521902571199393/?__tn__=-UK*F">https://www.facebook.com/watch/?v=1521902571199393 </a>
(3) Por curiosidade. Teor da escritura que titulou a aquisição das Ilhas Desertas pelo Estado Português a 30-12-1971:
<a href="https://www.facebook.com/photo/?fbid=1593059744367896&set=a.108541219486430&__tn__=-UK*F">https://www.facebook.com/photo?fbid=1593059744367896&set=a.108541219486430 </a>
Referências bibliográficas:
COSTA, J. Almeida e MELO, A. Sampaio (1990), «Dicionário da Língua Portuguesa», 6.ª Edição, Porto Editora Lda., Porto.
FRUTUOSO, Gaspar (1522-1591), Saudades da Terra, Livro II, Doutor Gaspar Frutuoso. [Palavras prévias de João Bernardo de Oliveira Rodrigues] – Nova edição de 1998, Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de (1984), «Elucidário Madeirense», Fac-símile da edição de 1946, Secretaria Regional de Turismo e Cultura – Direcção Regional dos Assuntos Culturais, Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934), «Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira», Edição do Autor, Funchal.

Fecha
Fuente Arquipelagos (consultar ficha)
Autor José Lemos Silva

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